Desenhos facilitam identificação de criminosos pela população.
Atualmente, especialistas de Demacro, Deic e DHPP fazem os retratos.
Alan Zambelli faz retrato falado em sua sala no Demacro (Foto: Paulo Toledo Piza/G1)Nos últimos oito anos, o escrivão e artista forense Alan Zambelli, de 34 anos, dedica a maior parte do seu tempo de trabalho ouvindo vítimas de crimes e desenhando retratos falados de suspeitos. No período, ele calcula ter desenhado mais de 1.200 rostos de criminosos.
Feitos em uma confortável sala no segundo andar do prédio do Departamento de Polícia Judiciária da Macro São Paulo (Demacro), em Pinheiros, na Zona Oeste da capital paulista, esses desenhos ajudaram a Polícia Civil a prender pessoas que cometeram crimes nas 38 cidades que formam a região metropolitana.
A prática de desenhar o rosto de assassinos e assaltantes remete ao século 19. “Na época do chamado velho oeste, nos Estados Unidos, retratos feitos a mão eram espalhados para que a população denunciasse os bandidos”, disse o perito.
Passado mais de um século, as imagens confeccionadas hoje pela Polícia Civil paulista mais parecem fotografias graças ao auxílio de modernos programas de computador. O objetivo do desenho, porém, permanece o mesmo. “O retrato é feito quando a polícia tem poucas pistas do criminoso. Ele é feito para que a população entre em contato com a polícia.”
Além do Demacro, o Departamento de Investigações sobre Crime Organizado (Deic) e o Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) também fazem esse trabalho. Com base em imagens do circuito interno de um restaurante na esquina das ruas Oscar Freire com Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, na Zona Oeste, o perito Sidney Barbosa, do DHPP, fez um retrato rico em detalhes de um suspeito de assaltar o estabelecimento.
No Deic, peritos fazem retratos do modo antigo, a lápis. Essa ilustração manual, segundo Zambelli, é tão importante quanto a informatizada. Desenhos dos rostos dos suspeitos de assaltar a casa do secretário estadual de Logística e Transporte, Saulo de Castro Abreu Filho, e de balear o ex-árbitro Oscar Roberto Godoy, foram feitos dessa maneira.
Retratos feitos por especialistas do DHPP (à esq.) e do Deic (Foto: Divulgação/Polícia Civil)
Confecção
Para que a descrição seja a mais verossímil possível, os detalhes são fundamentais. O fator trauma é essencial. “Quando você está sob a mira de uma arma, a situação é tão extrema que a imagem [do criminoso] dificilmente sairá de sua cabeça”, afirmou o perito, acrescentando que 80% dos retratos feitos por ele são de suspeitos de estupro e de roubo.
Para que a descrição seja a mais verossímil possível, os detalhes são fundamentais. O fator trauma é essencial. “Quando você está sob a mira de uma arma, a situação é tão extrema que a imagem [do criminoso] dificilmente sairá de sua cabeça”, afirmou o perito, acrescentando que 80% dos retratos feitos por ele são de suspeitos de estupro e de roubo.
Como relembrar uma situação traumática é difícil para a maior parte das vítimas, Zambelli tenta fazer de sua sala um espaço acolhedor. Em uma prateleira há potes com doces e balas, uma geladeira onde sempre tem água gelada, carrinhos para as crianças e até banheiro. “Tem gente que só de reviver a situação já passa mal.” Os únicos objetos que remetem à polícia são um quadro na parede com o símbolo da corporação e carrinhos de brinquedo com sirenes espalhados em um armário com porta de vidro.
Suspeita de sequestrar bebê foi detida após retratoser revelado (Foto: Alan Zambelli/Divulgação
Em visita ao Demacro no início da semana, o repórter do G1 teve a oportunidade de descrever o retrato de um assassino: Leonardo Brandão, personagem interpretado pelo ator Gabriel Braga Nunes, na novela Insensato Coração.
A primeira pergunta feita por Zambelli é o sexo do criminoso. Em seguida, questionou quantos anos o homem aparentava e o formato de seu rosto. Com esses dados em mãos, ele acessa um banco de dados com mais de mil tipos de olhos, narizes, bocas e cabelos. Como um quebra-cabeça, a imagem do suspeito começa a ser formada.
Tudo que é feito pelo perito em seu computador é visualizado pela vítima graças a uma segunda tela voltada para ela. O retrato demora entre 40 minutos e uma hora para ficar pronto. Em nenhum momento o perito recebeu informações além das descritas pelo repórter. Quando os últimos retoques eram dados, Zambelli comentou: “Essa pessoa está na novela?” O resultado pode ser visto abaixo.
Gabriel Braga Nunes real (à dir.) e seu retrato falado (Foto: Alan Zambelli/Divulgação e Renato Rocha Miranda/TV Globo)
Como se trata de um desenho, nenhum retrato falado é perfeito. “Mas tem que ficar parecido o suficiente para que as pessoas vejam a imagem e a relacionem com o suspeito.” Como exemplo, ele cita o sequestro de um bebê por uma idosa. A mulher foi presa após denúncia feita por uma testemunha que viu na mídia seu retrato falado. “Se você é vizinho e vê essa mulher com uma criança, não irá desconfiar. Mas ao ver na televisão o desenho de uma suspeita de sequestro parecida com ela, liga os pontos e acaba denunciando.” Quem quiser ver alguns outros retratos falados pode entrar no site http://www2.policiacivil.sp.gov.br/x2016/Retrato_falado/homens.php da Polícia Civil de São Paulo.
Confira o Excelente trabalho dos Peritos.
Att. Renato
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