A identificação de cadáveres carbonizados sempre foi uma tarefa de grande dificuldade na área pericial. O serviço de antropologia forense pode, através de medidas antropométricas,
relatar o sexo, idade aparente e possível estatura dos indivíduos,dados estes que podem auxiliar na identificação, mas não confirmar a identidade. Através das fichas dentárias fornecidas pelos parentes das vítimas, peritos comparam estas informações com os dados obtidos dos cadáveres. Na ausência da ficha dentária ou prótese que possa ser identificada por familiares, a confirmação da identidade só poderá ser feita mediante análise de DNA, conforme os três casos relatados a seguir: 1) No final de 1998, uma casa foi incendiada na região metropolitana de Porto Alegre. Foram encontrados, entre os destroços, restos
cadavéricos calcinados com idade aparente inferior a 47 anos. Sexo, estatura e raça não puderam ser determinadas. 2) No início de 2002 o Ministério Público nos solicitou ao Laboratório de Perícias a identificação de um cadáver carbonizado, vítima de crime hediondo, o qual permaneceu enterrado por sete meses antes da análise. 3) Ao final do mesmo ano, uma vítima de homicídio foi queimada, tendo seus restos depositados na beira
do rio Gravataí dentro de um saco plástico. Diante da impossibilidade do uso de técnicas odontolegais, procedeu-se a análise dos perfis genéticos das vítimas com afinalidade de identificação humana.
Materias e Métodos
Dos cadáveres foram utilizados dentes e/ou tecido muscular. Os dentes foram congelados a -80°C por, no mínimo 24 horas, triturados em moinho mineralógico e o DNA foi obtido
através do método de extração orgânica (SAMBROOK et al.,1989). O tecido muscular também sofreu procedimento de extração orgânica, segundo metodologia própria utilizada pelo FBI (“Federal Bureau of Investigation”). Os sangues utilizados como referência, colhidos de parentes das vítimas, foram submetidos ao método de extração não-orgânico – “Salting Out” (MILLER et al.,1988). Para a técnica de PCR (Reação em Cadeia da Polimerase) utilizou-se o kit AmpFðSTR Profiler-Plus e a genotipagem foi realizada no sequenciador ABI PRISM TM 310 Genetic Analyser (Applied Biosystems do Brasil). No primeiro caso relatado, foi apresentado aos peritos um saco plástico preto onde havia inúmeros fragmentos ósseos misturados a restos de telhas, tijolos e demais materiais carbonizados. Entre estes materiais, foi encontrado um fragmento carbonizado e ressecado, tendo no seu interior uma porção óssea, indicando tratar-se de tecido muscular. Após a observação pré-via no microscópio, verificou-se ser realmente músculo, do qual
foi obtido DNA para comparação com os perfis genéticos da esposa e do filho. No segundo caso relatado, foram retirados dentes calcinados do cadáver carbonizado exumado. Destes, utilizouse um dente para a extração de DNA através da metodologia
desenvolvida no Laboratório de Perícias, para que o seu perfil obtido fosse comparado com o da esposa e dos filhos. No terceiro caso, foram obtidos fragmentos musculares carbonizados da vítima, os quais foram submetidos ao método de extração orgânica para comparação com o material genético de referência. Neste caso, a suposta vítima teria um
irmão gêmeo aparentemente univitelínico, o qual foi utilizado para confronto genético devido a homologia entre os perfis genéticos.
Setor de Biologia Molecular; Laboratório de Perícias , Instituto Geral de Perícias – SJS/RS.
Att. Renato
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